Por Liliana Giusti Serra. Doutora em Ciência da Informação pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Mestre em Ciência da Informação pela Escola de Comunicações e Artes na Universidade de São Paulo (ECA/USP, 2015). Especialista em Gerência de Sistemas (2008) e graduação em Biblioteconomia (1992) pela Fundação Escola Sociologia e Política de São Paulo (FaBCI/FESP). Profissional da informação dos sistemas SophiA Biblioteca e SophiA Acervo.
Em abril, comemora-se o Dia Nacional da Biblioteca. A data foi definida em 1980 e tem como objetivo incentivar a leitura como ferramenta-base à educação. Este ano, porém, tivemos tristes coincidências: o falecimento de Luiz Antonio Souza e de Angela Monteiro Bettencourt, ambos bibliotecários no Rio de Janeiro.
Luiz Antonio esteve à frente da biblioteca acadêmica Lucio de Mendonça, no Petit Trianon da Academia Brasileira de Letras. Atuou na instituição por mais de 40 anos, depositando lá sua alma e paixão pelos livros e pela biblioteca. Gozava do convívio com os imortais e tinha um acervo pessoal invejável, além de muitas estórias para contar! Graduado em biblioteconomia e documentação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), e mestre em Ciência da Informação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Luiz Antonio fez também especialização em conservação na Bibliothèque Nationale de France. Simbolizava a tradição das bibliotecas, preservando a memória, história do livro, bibliografia e a literatura brasileira. Sua figura se misturava com as estantes da ABL, onde repousam tantas produções literárias.Fotografia retirada de redes sociais
Luiz Antonio na biblioteca Lucia de Mendonça na ABL
Angela Maria Monteiro Bettencourt começou a trabalhar na Fundação Biblioteca Nacional em 1983. Graduada em Biblioteconomia e Documentação pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), fez mestrado em Ciência da Informação pelo Instituto Brasileiro de Informações em Ciência e Tecnologia (IBICT). Era membro atuante da IFLA (Federação Internacional de Associações e Instituições Biblioteconômicas). Mergulhou no mundo digital, sendo responsável pela implantação da Biblioteca Nacional Digital (BN Digital) e a Hemeroteca Digital Brasileira, portal com periódicos nacionais dos séculos 19 e 20. Com a BN Digital. foi possível ampliar e democratizar o acesso ao acervo da memória nacional, com recursos de valor histórico, gerando uma cópia digital para fins de salvaguarda e preservação, formando reserva técnica de material em domínio público. Esta ação permitiu a disseminação da cultura brasileira em níveis nacionais e internacionais. A BN Digital contribui com a Rede da Memória Virtual Brasileira. Internacionalmente a cooperação ocorre com a Biblioteca Digital Mundial (World Digital Library), a Gallica (França), a Biblioteca Nacional da Argentina, a Biblioteca Digital do Patrimônio Iberoamericano, a Biblioteca Digital Luso-Brasileira, em parceria com a Biblioteca Nacional de Portugal, e com os projetos Brasiliana Fotográfica e Brasiliana Iconográfica.Acervo pessoal
Angela Maria Monteiro Bettencourt
A ABL e BN Digital são clientes SophiA desde 2003 e 2012, respectivamente. Conheci Luiz Antonio em 2007, antes de trabalhar no SophiA. Naquela época, eu trabalhava em instituição cultural que tinha a guarda de acervos particulares de intelectuais brasileiros, alguns deles acadêmicos. Na primeira visita que fiz a ABL, fui apresentada ao Luiz Antonio pelo acadêmico Lêdo Ivo, que rasgou elogios. Em 2010, quando comecei a trabalhar no SophiA, voltei a ter contato com ele, sempre que visitava a Academia Brasileira de Letras ou em eventos da área. Conheci Angela em 2012, na época da implantação do sistema. Tivemos afinidade desde o primeiro contato. Ela, muito culta, com uma paixão contagiante pela BN Digital e divertidíssima. Tinha uma visão ousada, realizando projetos de digitalização e preservação de longo prazo, buscando levar o Brasil e sua cultura a outros continentes. Enxergava a biblioteca digital como uma evolução da biblioteca tradicional, democratizando o acesso a documentos raros, notáveis, muitos deles desconhecidos, repletos de história e memória.
Tive a honra de participar de dois congressos da IFLA com a Angela, além de diversos encontros e reuniões de trabalho. Aprendi muito com ela e nem consigo dimensionar o quanto fará falta. Seu legado é pulsante, como era o brilho de seus olhos quando falava da BN Digital.
Angela e Luiz Antonio fizeram história na biblioteconomia carioca e brasileira. São exemplos a serem seguidos, inspirando futuras gerações de bibliotecários. Duas pessoas que realizaram sonhos e construíram carreiras brilhantes. E pensar que ambos partiram na semana em que comemorávamos o Dia Nacional da Biblioteca.Fotografia: Ivan Almeida
Luiz Antonio e Angela Bettencourt em participação no Encontro SophiA, em São Paulo, em 2013